(20 edições intermédias de um utilizador não apresentadas)
Linha 7: Linha 7:
  
  
 +
<div class=justificado>
  
[[image:Pneumatic_tubes.jpg]]
+
'''Sessão 55 – Segunda, 26 de MAIO de 2014, 21:00 – Leitura dos capítulos 62 e 63 da Segunda Parte do ''Engenhoso Cavaleiro Dom Quixote de la Mancha''."'''
  
  
Sessão 55 – Segunda, 26 de MAIO de 2014, 21:00 – Leitura dos capítulos 62 e 63 da Segunda Parte do Engenhoso Cavaleiro Dom Quixote de la Mancha."
 
  
 +
Desta vez no subpalco do São Luiz!
  
caps 62 e 63 (28’ + 22’ = 50’)
 
  
  
António Moreno – a cabeça encantada – DQ dança – a cabeça encantada – DQ na imprensa – a visita às galeras – alarme nas galeras – a caça do bajel – história de Ana Félix.
+
[[image:telephone2.jpg|center]]
  
 
  
TEMA : tecnologias de comunicação
 
  
Convidado : Fernando Vendrell
+
 
 +
 
 +
Convidado : '''Fernando Vendrell'''
  
 
   
 
   
 +
TEMA : tecnologias de comunicação
 +
  
 
Queridos Quixotes,
 
Queridos Quixotes,
  
 
  
Como vimos em anteriores sessões houve uma mudança de tom com a irrupção na história do apócrifo de Avellaneda, no capítulo 59. A partir daqui D. Qui não será o mesmo – Cervantes se calhar também não – mas aquilo que se perde (''D. Qui est desarçonné par la réalité'') transforma-se em nova matéria para nós leitores, densificando e potenciando ainda mais o alcance desta novela novelo.
+
Como vimos em anteriores sessões houve uma mudança de tom com a irrupção na história do apócrifo de Avellaneda, no capítulo 59. A partir daqui D. Qui não será o mesmo – Cervantes se calhar também não – mas aquilo que se perde (''D. Qui est desarçonné par la réalité'' - lembrem-se da quantidade de referências ao facto de D. Quixote ser "apanhado" desmontado) transforma-se em nova matéria para nós leitores, densificando e potenciando ainda mais o alcance desta novela novelo.
  
 
  
 
Para desmentir o apócrifo D. Quixote muda de rumo de Saragoça para Barcelona. Nesta cidade é novamente acolhido numa casa rica, desta vez burguesa, na qual a fama precedeu o nosso Quixote e com ela a tentação dos respectivos hóspedes de testarem os nossos heróis com novas burlas. As novas burlas – DQ exibido em trajes ridículos na cidade perante os populares – com a encenação maldosa de uma falsa notoriedade – seguida da cena em que D. Qui é exposto socialmente por não saber dançar –, são sintomáticas da nova fragilidade do nosso cavaleiro.
 
Para desmentir o apócrifo D. Quixote muda de rumo de Saragoça para Barcelona. Nesta cidade é novamente acolhido numa casa rica, desta vez burguesa, na qual a fama precedeu o nosso Quixote e com ela a tentação dos respectivos hóspedes de testarem os nossos heróis com novas burlas. As novas burlas – DQ exibido em trajes ridículos na cidade perante os populares – com a encenação maldosa de uma falsa notoriedade – seguida da cena em que D. Qui é exposto socialmente por não saber dançar –, são sintomáticas da nova fragilidade do nosso cavaleiro.
  
 
  
Ao mesmo tempo que esta fragilidade toma conta de D. Qui, pré-anunciando um fim, surge curiosamente no mesmo capítulo a descrição de duas técnicas novas que permitem comunicar no espaço e no tempo : a cabeça encantada, antepassada do telefone, e a tipografia. Sentimos aqui subjacente um volte face curioso, uma espécie de ''fade out – fade in''. D. Qui pode ser apeado ou desmentido pela realidade, mas sabe, ao mesmo tempo, que faz e fará parte da realidade subsequente sem limitação no tempo nem no espaço. A sua realidade neste momento, é já uma realidade à distância, intocável e irredutível.
+
Ao mesmo tempo que esta fragilidade toma conta de D. Qui, pré-anunciando um fim, surge curiosamente no mesmo capítulo a descrição de duas técnicas novas que permitem comunicar no espaço e no tempo : a cabeça encantada, antepassada do telefone, e a tipografia. Sentimos aqui subjacente um ''volte face'' curioso, uma espécie de ''fade out – fade in''. D. Qui pode ser apeado ou desmentido pela realidade, mas sabe, ao mesmo tempo, que faz e fará parte da realidade subsequente sem limitação no tempo, nem no espaço. A sua realidade neste momento, é já uma realidade à distância, intocável e irredutível.
  
  
 +
* * *
  
Este é apenas um pequeno lamiré de comentário para a nossa sessão de segunda-feira 26 de Maio. Com esta são cinco as sessões que nos levam até ao fim deste livro.
 
  
 +
Voltando à decisão de ir para Barcelona, há dois aspectos a sublinhar, por um lado o D. Quixote de Cervantes já não vai a Saragoça porque o do Avellanada vai, dirigindo-se diretamente para a cidade condal, por outro, como podemos adivinhar lendo o ensaio de José Maria Paz Gago “As tecnologias de Comunicação no Quixote”, há um motivo pelo qual essa era exatamente '''a cidade''' na qual, para o Cervantes-Quixote, o Avellaneda podia ser desmentido. Nesses tempos, como nos conta José Maria Paz Gago, Barcelona era a cidade emblemática da tipografia e “En ninguna otra ciudad podría haberse producido este singular encuentro entre el personaje cervantino y la tecnologia que izo posible su creación y su fortuna editorial.”
  
[[image:hand.jpg]] até Segunda !
+
 
 +
Quixote é uma personagem literária consequência da invenção da tipografia é portanto nesta cidade - o primeiro centro peninsular da arte tipográfica  - que melhor se podia defender e assegurar-se da “sua verdade”. Quixote veio ao seu verdadeiro berço mostrar a sua “existência” e prevalência. E logo assiste à impressão do seu falso. Sem dúvida que Cervantes já tinha planeado, antes que lhe caísse nas mãos o apócrifo, a visita do Qui à tipografia. O facto de o seu personagem assistir e comentar a impressão do falso mostra o ascendente natural, original, total do autor e da sua personagem sobre o usurpador mascarado. Cervantes nem se dá ao trabalho de fingir que ignora esse livro insultuoso para si, e se calhar pior ainda, para as suas personagens, magoado, mas com elegância e ligeireza banaliza e reduz o outro à sua insignificância.
 +
 
 +
 
 +
A coincidência da cabeça encantada, ou seja da voz sem corpo e da imprensa, ou seja da voz sem sopro, num mesmo capítulo não é seguramente casual. Lembremo-nos que Cervantes – na linha das novelas picarescas – tinha trazido a oralidade e os modos de falar das vozes populares para o terreno da escrita. Por isso tanto se diz que o Quixote é um livro para ler em voz alta, como fazemos nós. Cervantes captou o espírito de uma época e fixou-o com o meio que tinha à sua disposição, talvez lhe ficasse no fundo uma pequena tristeza de não poder fixar também os sons e o movimento, mas isso como sabemos teve de esperar mais alguns séculos.
 +
 
 +
 
 +
* * *
 +
 
 +
 
 +
Martín de Riquer, na sua leitura do capítulo 62, chama a atenção para os descuidos e incongruências entre as datas reais das ações descritas e as relatadas por Cervantes, que começam no capítulo 60, como vimos na sessão passada. Poder ser um exercício fútil especular sobre os motivos destas incongruências, mas se aceitarmos que a construção de uma obra prima assenta num sistema lógico e consciente de si, então de algum modo estamos autorizados a especular sobre estes detalhes e sobre o que eles nos podem dizer. A relação circular entre a realidade e a ficção está no cerne da obra cervantina, nestes últimos capítulos porém, sentimos que provavelmente desencadeado pela “trauma” do Avellaneda, há um conflito interno entre estes dois planos. É nestes capítulos que surgem indicações concretas sobre dados concretos relativos a datas precisas e facilmente verificáveis, mas são falsas. Mas é também nestes capítulos que se reafirma com mais força a perenidade definitiva deste livro. Creio, para fazer curto, que o que o Cervantes nos diz é que não é nos detalhes que está a verdade. Quem está nos detalhes, como se sabe, é o diabo.
 +
 
 +
 
 +
O nosso convidado desta sessão nº 55, também já esteve na nossa comunidade, é um quixotesco realizador e grande amigo: Fernando Vendrell.
 +
 
 +
 
 +
Com esta são cinco as sessões que nos levam até ao fim deste livro.
 +
 
 +
 
 +
 
 +
[[image:SecondHand.jpg]] até Segunda !
  
  
Linha 53: Linha 73:
  
 
Teresa
 
Teresa
 +
 +
 +
25 de Maio de 2014
 +
  
  
Linha 62: Linha 86:
 
[http://cvc.cervantes.es/literatura/clasicos/quijote/edicion/parte2/cap62/nota_cap_62.htm Lectura del capítulo LXII] Por Martín de Riquer
 
[http://cvc.cervantes.es/literatura/clasicos/quijote/edicion/parte2/cap62/nota_cap_62.htm Lectura del capítulo LXII] Por Martín de Riquer
  
 +
 +
[http://http://books.google.pt/books?id=88gReFhkazsC&lpg=PA115&ots=rhnT8W8Cqu&dq=quijote%20la%20cabeza%20encantada%20y%20la%20imprenta&pg=PA118#v=onepage&q=quijote%20la%20cabeza%20encantada%20y%20la%20imprenta&f=false As Tecnologias da Comunicação no Quixote]
  
  

Edição actual desde as 13h58min de 2 de Junho de 2014


Um projecto do São Luiz Teatro Municipal

comissariado por Alvaro García de Zúñiga, José Luis Ferreira & Teresa Albuquerque


Sessão 55 – Segunda, 26 de MAIO de 2014, 21:00 – Leitura dos capítulos 62 e 63 da Segunda Parte do Engenhoso Cavaleiro Dom Quixote de la Mancha."


Desta vez no subpalco do São Luiz!


Telephone2.jpg



Convidado : Fernando Vendrell


TEMA : tecnologias de comunicação


Queridos Quixotes,


Como vimos em anteriores sessões houve uma mudança de tom com a irrupção na história do apócrifo de Avellaneda, no capítulo 59. A partir daqui D. Qui não será o mesmo – Cervantes se calhar também não – mas aquilo que se perde (D. Qui est desarçonné par la réalité - lembrem-se da quantidade de referências ao facto de D. Quixote ser "apanhado" desmontado) transforma-se em nova matéria para nós leitores, densificando e potenciando ainda mais o alcance desta novela novelo.


Para desmentir o apócrifo D. Quixote muda de rumo de Saragoça para Barcelona. Nesta cidade é novamente acolhido numa casa rica, desta vez burguesa, na qual a fama precedeu o nosso Quixote e com ela a tentação dos respectivos hóspedes de testarem os nossos heróis com novas burlas. As novas burlas – DQ exibido em trajes ridículos na cidade perante os populares – com a encenação maldosa de uma falsa notoriedade – seguida da cena em que D. Qui é exposto socialmente por não saber dançar –, são sintomáticas da nova fragilidade do nosso cavaleiro.


Ao mesmo tempo que esta fragilidade toma conta de D. Qui, pré-anunciando um fim, surge curiosamente no mesmo capítulo a descrição de duas técnicas novas que permitem comunicar no espaço e no tempo : a cabeça encantada, antepassada do telefone, e a tipografia. Sentimos aqui subjacente um volte face curioso, uma espécie de fade out – fade in. D. Qui pode ser apeado ou desmentido pela realidade, mas sabe, ao mesmo tempo, que faz e fará parte da realidade subsequente sem limitação no tempo, nem no espaço. A sua realidade neste momento, é já uma realidade à distância, intocável e irredutível.


* * *


Voltando à decisão de ir para Barcelona, há dois aspectos a sublinhar, por um lado o D. Quixote de Cervantes já não vai a Saragoça porque o do Avellanada vai, dirigindo-se diretamente para a cidade condal, por outro, como podemos adivinhar lendo o ensaio de José Maria Paz Gago “As tecnologias de Comunicação no Quixote”, há um motivo pelo qual essa era exatamente a cidade na qual, para o Cervantes-Quixote, o Avellaneda podia ser desmentido. Nesses tempos, como nos conta José Maria Paz Gago, Barcelona era a cidade emblemática da tipografia e “En ninguna otra ciudad podría haberse producido este singular encuentro entre el personaje cervantino y la tecnologia que izo posible su creación y su fortuna editorial.”


Quixote é uma personagem literária consequência da invenção da tipografia é portanto nesta cidade - o primeiro centro peninsular da arte tipográfica - que melhor se podia defender e assegurar-se da “sua verdade”. Quixote veio ao seu verdadeiro berço mostrar a sua “existência” e prevalência. E logo assiste à impressão do seu falso. Sem dúvida que Cervantes já tinha planeado, antes que lhe caísse nas mãos o apócrifo, a visita do Qui à tipografia. O facto de o seu personagem assistir e comentar a impressão do falso mostra o ascendente natural, original, total do autor e da sua personagem sobre o usurpador mascarado. Cervantes nem se dá ao trabalho de fingir que ignora esse livro insultuoso para si, e se calhar pior ainda, para as suas personagens, magoado, mas com elegância e ligeireza banaliza e reduz o outro à sua insignificância.


A coincidência da cabeça encantada, ou seja da voz sem corpo e da imprensa, ou seja da voz sem sopro, num mesmo capítulo não é seguramente casual. Lembremo-nos que Cervantes – na linha das novelas picarescas – tinha trazido a oralidade e os modos de falar das vozes populares para o terreno da escrita. Por isso tanto se diz que o Quixote é um livro para ler em voz alta, como fazemos nós. Cervantes captou o espírito de uma época e fixou-o com o meio que tinha à sua disposição, talvez lhe ficasse no fundo uma pequena tristeza de não poder fixar também os sons e o movimento, mas isso como sabemos teve de esperar mais alguns séculos.


* * *


Martín de Riquer, na sua leitura do capítulo 62, chama a atenção para os descuidos e incongruências entre as datas reais das ações descritas e as relatadas por Cervantes, que começam no capítulo 60, como vimos na sessão passada. Poder ser um exercício fútil especular sobre os motivos destas incongruências, mas se aceitarmos que a construção de uma obra prima assenta num sistema lógico e consciente de si, então de algum modo estamos autorizados a especular sobre estes detalhes e sobre o que eles nos podem dizer. A relação circular entre a realidade e a ficção está no cerne da obra cervantina, nestes últimos capítulos porém, sentimos que provavelmente desencadeado pela “trauma” do Avellaneda, há um conflito interno entre estes dois planos. É nestes capítulos que surgem indicações concretas sobre dados concretos relativos a datas precisas e facilmente verificáveis, mas são falsas. Mas é também nestes capítulos que se reafirma com mais força a perenidade definitiva deste livro. Creio, para fazer curto, que o que o Cervantes nos diz é que não é nos detalhes que está a verdade. Quem está nos detalhes, como se sabe, é o diabo.


O nosso convidado desta sessão nº 55, também já esteve na nossa comunidade, é um quixotesco realizador e grande amigo: Fernando Vendrell.


Com esta são cinco as sessões que nos levam até ao fim deste livro.


SecondHand.jpg até Segunda !


Um forte Abraço


Teresa


25 de Maio de 2014


CAPÍTULO LXII

CAPÍTULO LXIII


Lectura del capítulo LXII Por Martín de Riquer


As Tecnologias da Comunicação no Quixote


Sessões

2011

20 SET, 4 OUT, 25 OUT, 15 NOV, 29 NOV, 13 DEZ

2012

24 JAN, 7 FEV, 28 FEV, 13 MAR, 27 MAR, 10 ABR, 24 ABR, 8 MAI, 22 MAI, 5 JUN, 19 JUN, 3 JUL, 25 SET, 09 OUT, 23 OUT, 06 NOV, 13 NOV, 27 NOV, 11 DEZ

2013

08 JAN, 22 JAN, 05 FEV, 19 FEV, 5 MAR, 19 MAR, 2 ABR, 16 ABR, 30 ABR, 14 MAI, 28 MAI, 18 JUN, 2 JUL, 9 JUL, 30 SET, 14 OUT, 28 OUT, 18 NOV, 2 DEZ, 16 DEZ

2014

13 JAN, 27 JAN, 10 FEV, 24 FEV, 10 MAR, 24 MAR, 14 ABR, 28 ABR, 12 MAI, 26 MAI, 9 JUN, 23 JUN, 7 JUL, 21 JUL


Ler Dom Quixote