AGZ e o Sushi

por Teresa Albuquerque


Alvaro García de Zúñiga é um autor singular que se exprime através de diferentes formas artísticas. A escrita é a matriz de todas elas, mas ainda assim é uma escrita musical e com um forte pendor gráfico. Na realidade o Alvaro mexe-se com especial à vontade em todas as formas múltiplas, como o teatro em que à escrita se somam a música e as artes plásticas ou, na mesma ordem de ideias, o cinema.


A sua produção é formalmente díspar mas consistente de um ponto de vista conceptual. Em cada obra há um investimento total em que a ideia e a sua forma de expressão são levadas ao limite, ao limite do que determinada forma permite para melhor servir uma ideia com o que ela tem de ilimitado. São por isso frequentes os metadiscursos em que a própria obra se interroga sem artífícios deixando entrever um lado nu e cru das suas obras.


Há também a presença desvelada, embora quase sempre discreta, dos meios técnicos que permitiram atingir determinado efeito formal. Essa presença pode ser tão discreta que ficamos na dúvida se não será um erro. Mas este aspecto pertubador é propositado para que não esqueçamos nunca afinal que o que estamos a ver é “apenas” um filme ou uma peça de teatro.


Uma sólida ancoragem na história das Artes e das Ideias permite ainda a Alvaro García de Zúñiga uma abordagem exigentemente contemporânea dos temas que o perseguem.


É assim que cada obra, cada projecto, acabam por ter um longo período de gestação. Tanto mais longo quanto depois a sua realização é rápida. É que Alvaro trabalha as ideias à exaustão e quando confrontado com a sua concretização a forma surge quase naturalmente. Em suma pode-se dizer que músico de formação e escritor de profissão Alvaro aborda o cinema como um pintor para o qual a película (ou a banda magnética) é uma tela na qual os conceitos-forma se vão agenciando aparentemente sem esforço e sem hesitações.


O documentário de criação H.U.S. “História Universal do Sushi” acrescenta aos aspectos já referidos o lado gastronómico: uma das grandes paixões de Alvaro García de Zúñiga. Uma iguaria sumamente estética traço de união entre o oriente e o ocidente pretexto para uma viagem inter-cultural iniciada há mais de 5 séculos com a chegada dos portugueses ao Brasil e pouco depois ao Japão.


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