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O ano de 1929 é fundamental na vida do escritor. A crise de 29 abalou as suas finanças, ele rompe com Mário de Andrade, separa-se de Tarsila do Amaral e apaixona-se pela escritora comunista Patrícia Galvão (Pagu). O relacionamento com Patrícia Galvão intensifica sua atividade política e Oswald passa a militar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além disso, o casal funda o jornal "O Homem do Povo", que durou até 1945, quando o autor rompeu com o PCB. Do casamento com Patrícia Galvão, nasceu Rudá, seu segundo filho.  
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O ano de 1929 é fundamental na vida do escritor. A crise de 29 abalou as suas finanças e ele rompe com Mário de Andrade, separa-se de Tarsila do Amaral e apaixona-se pela escritora comunista Patrícia Galvão (Pagu). Intensifica a sua actividade política e passa a militar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além disso, funda com a mulher o jornal "O Homem do Povo", que durou até 1945, quando o autor rompeu com o PCB.
  
  
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Eleito, em 1950, presidente do Clube da Poesia em São Paulo, foi várias vezes reeleito, tendo instituído, em sua gestão, um curso de Poética e iniciado a publicação da colecção "Novíssimos", destinada a publicar e apresentar valores representativos daquela fase da poesia brasileira. Entre 1953 e 1954, foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris.
 
Eleito, em 1950, presidente do Clube da Poesia em São Paulo, foi várias vezes reeleito, tendo instituído, em sua gestão, um curso de Poética e iniciado a publicação da colecção "Novíssimos", destinada a publicar e apresentar valores representativos daquela fase da poesia brasileira. Entre 1953 e 1954, foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris.
  
Poeta inicialmente ligado ao Parnasianismo/Simbolismo, (A flauta de Pã, 1917) adopta a posição nacionalista do movimento de 1922, revelando-se um modernista ortodoxo até o início da década de 40. As obras '''''Vamos caçar papagaios''''' (1926), '''''Borrões de verde e amarelo''''' (1927) e '''''Martim Cererê''''' (1928) estão entre as mais representativas do Modernismo. Com '''''O sangue das horas''''' (1943), inicia uma nova e surpreendente fase, passando do imagismo cromático ao lirismo introspectivo-filosófico, que se acentua em '''''Um dia depois do outro''''' (1947), obra que a crítica em geral considera o marco divisório da sua carreira literária.  
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Poeta inicialmente ligado ao Parnasianismo/Simbolismo, (A flauta de Pã, 1917) adopta a posição nacionalista do movimento de 1922, revelando-se um modernista ortodoxo até o início da década de 40. As obras '''''Vamos caçar papagaios''''' (1926), '''''Borrões de verde e amarelo''''' (1927) e '''''[[Cassiano Ricardo parte 2|Martim Cererê]]''''' (1928) estão entre as mais representativas do Modernismo. Com '''''O sangue das horas''''' (1943), inicia uma nova e surpreendente fase, passando do imagismo cromático ao lirismo introspectivo-filosófico, que se acentua em '''''Um dia depois do outro''''' (1947), obra que a crítica em geral considera o marco divisório da sua carreira literária.  
  
 
Acompanhou de perto as experiências do '''Concretismo''' e do '''Praxismo''', movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60. A sua obra '''''Jeremias sem-chorar''''', de 1964, é bem representativa desta posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas.
 
Acompanhou de perto as experiências do '''Concretismo''' e do '''Praxismo''', movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60. A sua obra '''''Jeremias sem-chorar''''', de 1964, é bem representativa desta posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas.
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a relação com Mário de Andrade – figura de proa do modernismo brasileiro.
 
a relação com Mário de Andrade – figura de proa do modernismo brasileiro.
 
(Mário de Andrade escreveu o romance modernista Macunaíma, publicado em 1928, em que o (anti)herói é um índio brasileiro. O romance pretende mostrar o multiculturalismo do Brasil : "utiliza os mitos indígenas, as lendas, provérbios do povo brasileiro e regista alguns aspectos do folclore do país até então pouco conhecidos (rapsódia). O livro possui estrutura inovadora, não seguindo uma ordem cronológica (i.e. atemporal) e espacial. É uma obra surrealista, onde se encontra aspectos ilógicos, fantasiosos e lendas. Apresenta críticas implícitas à miscigenação étnica (raças) e religiosa (catolicismo, paganismo, candomblé) e uma critica maior à linguagem." - ver : http://pt.wikipedia.org/wiki/Macunaíma.
 
(Mário de Andrade escreveu o romance modernista Macunaíma, publicado em 1928, em que o (anti)herói é um índio brasileiro. O romance pretende mostrar o multiculturalismo do Brasil : "utiliza os mitos indígenas, as lendas, provérbios do povo brasileiro e regista alguns aspectos do folclore do país até então pouco conhecidos (rapsódia). O livro possui estrutura inovadora, não seguindo uma ordem cronológica (i.e. atemporal) e espacial. É uma obra surrealista, onde se encontra aspectos ilógicos, fantasiosos e lendas. Apresenta críticas implícitas à miscigenação étnica (raças) e religiosa (catolicismo, paganismo, candomblé) e uma critica maior à linguagem." - ver : http://pt.wikipedia.org/wiki/Macunaíma.
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'''Elementos de contextualização:'''
 
'''Elementos de contextualização:'''
  
'''O Modernismo'''
 
  
Corrente intelectual e artística de se estende de 1890 a 1970.
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O '''modernismo''' é uma corrente intelectual e artística de se estende de 1890 a 1970 e se caracteriza por :
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- Rejeição da tradição
 
- Rejeição da tradição
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- Rejeição do Romantismo
 
- Rejeição do Romantismo
  
- a procura do actual;  
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- a procura do actual;
  
- o culto do progresso;  
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- o culto do progresso;
  
- a concepção de que a arte não deve ser uma cópia da realidade;  
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- a concepção de que a arte não deve ser uma cópia da realidade;
  
 
- aproveitamento das lições de uma nova arte em evidência, o cinema.
 
- aproveitamento das lições de uma nova arte em evidência, o cinema.
  
  
O [http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo_em_Portugal modernismo em Portugal] desenvolveu-se aproximadamente desde o início do século XX até ao final do Estado Novo, na década de 70.
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O início do século XX foi um momento de crise aguda, de dissolução valores.  
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Ao qual os artistas e os intelectuais reagiram formando o movimento modernista.
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A ruptura com o “passado” surgia como uma necessidade tingida pelas ideias e técnicas inovadoras que foram surgindo na transição entre o séc. XIX e o XX.
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- redescobrir o mundo através da redescoberta da linguagem estética.
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- na poesia recusam-se os temas poéticos já gastos, as estruturas vigentes da poética ultrapassada.
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- os objectos não-estéticos e o dia-a-dia na sua dimensão multiforme entram na arte.
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- recusa-se o código linguístico convencional e, sob o signo da invenção, surgem novas linguagens literárias
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No modernismo a literatura surge associada às artes plásticas e por elas influenciada. Nomes como Fernando Pessoa (n. 1888), Sá Carneiro (n. 1890) e Almada Negreiros (n. 1893), são marcos importantes desta época.
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Foi em 1913, em Lisboa, que se constituiu o núcleo do grupo modernista.
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Pessoa e Sá Carneiro haviam colaborado na Águia, órgão do Saudosismo; mas iam agora realizar-se em oposição a este, desejosos como estavam de imprimir ao ambiente literário português o tom europeu, audaz e requintado, que faltava à poesia saudosista.
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Nesse ano de 1913 escreveu Sá Carneiro, os poemas de Dispersão; Fernando Pessoa dava início a uma escola efémera compondo o poema «Pauis» (ambos nutriam o sonho de uma revista, significativamente intitulada Europa).
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Em 1914 os nossos jovens modernistas, estimulados pela aragem de actualidade vinda de Paris com Sá Carneiro e Santa Rita Pintor, adepto do futurismo, faziam seu o projecto que Luís da Silva Ramos (Luís de Montalvor) acabava de trazer do Brasil: o lançamento de uma revista luso-brasileira: Orpheu.
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Desta revista saíram dois números em 1915; incluíam colaboração de Montalvor, Pessoa, Sá Carneiro, Almada Negreiros, Cortes Rodrigues, Alfredo Pedro Guisado e Raul Leal; dos brasileiros Ronald de Carvalho e Eduardo Guimarães; de Ângelo de Lima, internado no manicómio; de Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa. Feitos, em parte, para irritar o burguês, para escandalizar, estes dois números alcançaram o fim proposto, tornando-se alvo das troças dos jornais; mas a empresa não pôde prosseguir por falta de dinheiro.  
  
Em inícios do século XX, em Portugal, a produção literária e plástica era ainda profundamente marcada pelo classicismo racionalista e naturalista, em manifestações apáticas e decadentes, que evidenciavam forte resistência à inovação. Ao monótono e decadente rotativismo político correspondia uma não menos monótona e decadente produção intelectual. Os interesses materiais dos burgueses sobrepunham-se aos interesses culturais, condicionando a liberdade de expressão.
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A geração modernista continuou a manifestar-se, quer em publicações individuais, quer através de outras revistas, como é o caso de Exílio (1916), com um só número e Centauro (1916). Em Portugal, a nova geração combatia o academismo bem pensante de republicanos burgueses que tinham feito carreira à sombra do partido.
  
A partir de certo momento, grupos de intelectuais portugueses organizaram-se em círculos de contestação da velha ordem e iniciam-se no recurso a estratégias provocatórias e na resposta, por vezes desabrida, às formas políticas e culturais conservadoras e reaccionárias à modernidade. - É o modernismo, enquanto movimento estético e literário de ruptura com o marasmo intelectual, que irrompe em Portugal em uníssono com a arte e a literatura mais avançadas da Europa, sem prejuizo, todavia, da originalidade nacional.
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Tal como aconteceu com a geração da semana de 22, no Brasil, a geração do Orpheu surge como ponto de arranque em mais duma direcção - começo de uma época nova, liquidação de certas formas de pensar e de sentir. Não foi um movimento homogéneo, mas sim uma síntese de várias tendências quer literárias quer plásticas.
  
 
Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob iniciativa privada, num esforço de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das quais as novas opções culturais eram demonstradas e divulgadas. No entanto, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais têm maior presença, não proporcionaram abundância de público interessado nos novos eventos culturais.
 
Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob iniciativa privada, num esforço de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das quais as novas opções culturais eram demonstradas e divulgadas. No entanto, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais têm maior presença, não proporcionaram abundância de público interessado nos novos eventos culturais.
  
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Enquanto movimento estético e literário de ruptura com o marasmo intelectual, o modernismo irrompe em Portugal em uníssono com a arte e a literatura mais avançadas da Europa.
  
  

Edição actual desde as 18h00min de 22 de Fevereiro de 2009


No âmbito do Ciclo de Música e Poesia Brasileira na Fundação das Casas de Fronteira e Alorna... faremos uma breve incursão na vida e obra de Oswald de Andrade e Cassiano Ricardo.


Oswald de Andrade

Dados chave:

José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, em 1890. No mesmo ano em que se convencionou considerar que se inicia o "advento do modernismo" (Modernismo, na Wikipédia).


Em 1912 viaja para a Europa, em Paris toma contacto com o Futurismo.


Em 1917 torna-se amigo de Mário de Andrade. Os dois vão liderar a primeira geração do Modernismo brasileiro.

En 1919 forma-se em direito.

Militante divulgador da estética modernista, em 1921 Oswald escreve para o amigo Mário de Andrade o artigo "O meu Poeta Futurista" publicado pelo Jornal do Comércio, artigo "preparatório" da Semana de Arte Moderna de 1922 que de alguma forma "lança" o movimento modernista brasileiro.

(- Vale a pena ressaltar, que a Semana em si não teve grande importância na sua época, ganhou valor histórico com o tempo ao projectar-se ideologicamente ao longo do século. Como talvez acontece geralmente a todas as ideias bem sucedidas, a ideia de Modernismo desdobrou-se em diversos movimentos diferentes, todos eles declarando levar adiante a sua herança. De tal modo que mesmo movimentos muito mais recentes como o Tropicalismo e a geração da Lira Paulistana nos anos 70 (Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, entre outros) se reclamam deste ideário. O próprio nome Lira Paulistana é tirado de uma obra de Mário de Andrade. Mesmo a Bossa Nova deve muito aos modernistas, pela sua lição peculiar de "antropofagia", assimilando a influência da música popular norte-americana na linguagem brasileira do samba e do baião.)


Entre os movimentos de inspiração que surgiram na década de 1920, destacam-se:

Movimento Pau-Brasil

Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta

Movimento antropofágico

e Oswald de Andrade será autor de Manifesto da Poesia Pau-Brasil publicado em 1924 e do Manifesto Antropófago publicado em 1928.


Estes manifestos, irreverentes, panfletários e ao mesmo tempo idealistas, estão repletos de instruções sobre o que deve ser a cultura modernista.

Ilustrada também, naturalmente pela sua poesia. Selecção de Poesia

A principal forma de divulgação destas novas idéias se dava através das revistas. Entre as que se destacam, encontram-se:

Revista Klaxon

Revista de Antropofagia


O ano de 1929 é fundamental na vida do escritor. A crise de 29 abalou as suas finanças e ele rompe com Mário de Andrade, separa-se de Tarsila do Amaral e apaixona-se pela escritora comunista Patrícia Galvão (Pagu). Intensifica a sua actividade política e passa a militar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além disso, funda com a mulher o jornal "O Homem do Povo", que durou até 1945, quando o autor rompeu com o PCB.


Depois de separar-se de Pagu, casou-se, em 1936, com a poetisa Julieta Bárbara. Em 1944, mais um casamento, agora com Maria Antonieta D'Aikmin, com quem permanece junto até a morte, em 1954.


Nenhum outro escritor do Modernismo ficou mais conhecido pelo espírito irreverente e combativo do que Oswald de Andrade. Sua atuação intelectual é considerada fundamental na cultura brasileira do início do século. A obra literária de Oswald apresenta exemplarmente as características do Modernismo da primeira fase.


A poesia de Oswald é precursora de um movimento que vai marcar a cultura brasileira na década de 60: o Concretismo. Suas idéias, ainda nessa década, reaparecem também no Tropicalismo.


Cassiano Ricardo e na wikipédia: Cassiano Ricardo


Dados chave:

Cassiano Ricardo (C. R. Leite), jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 1895, e morreu no Rio de Janeiro, em 1974. A sua vida estendeu-se portanto por todo o período modernista.

Membro da Academia desde 1937 na sucessão de Paulo Setúbal, foi recebido pelo académico Guilherme de Almeida.

Aos 16 anos publicava o seu primeiro livro de poesias, "Dentro da noite". Iniciou o curso de Direito em São Paulo, concluindo-o no Rio, em 1917.

De volta a São Paulo, foi um dos líderes do movimento de reforma literária iniciada na Semana de Arte Moderna da 1922, participando activamente nos grupos "Verde Amarelo" e "Anta", ao lado de Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros. Formaram a fase que Tristão de Athayde classifica de nacionalista.

No jornalismo, Cassiano Ricardo trabalhou no Correio Paulistano (de 1923 a 1930), como redactor, e dirigiu A Manhã, do Rio de Janeiro (de 1940 a 1944). Em 1924, fundou a Novíssima, revista literária dedicada à causa dos modernistas e ao intercâmbio cultural pan-americano. Também foi o criador das revistas Planalto (1930) e Invenção (1962).

Em 1937 fundou, com Menotti del Picchia e Mota Filho, a "Bandeira", movimento político que se contrapunha ao Integralismo. Dirigiu, àquele tempo, o jornal O Anhangüera, que defendia a ideologia da Bandeira, condensada na fórmula: "Por uma democracia social brasileira, contra as ideologias dissolventes e exóticas."

Eleito, em 1950, presidente do Clube da Poesia em São Paulo, foi várias vezes reeleito, tendo instituído, em sua gestão, um curso de Poética e iniciado a publicação da colecção "Novíssimos", destinada a publicar e apresentar valores representativos daquela fase da poesia brasileira. Entre 1953 e 1954, foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris.

Poeta inicialmente ligado ao Parnasianismo/Simbolismo, (A flauta de Pã, 1917) adopta a posição nacionalista do movimento de 1922, revelando-se um modernista ortodoxo até o início da década de 40. As obras Vamos caçar papagaios (1926), Borrões de verde e amarelo (1927) e Martim Cererê (1928) estão entre as mais representativas do Modernismo. Com O sangue das horas (1943), inicia uma nova e surpreendente fase, passando do imagismo cromático ao lirismo introspectivo-filosófico, que se acentua em Um dia depois do outro (1947), obra que a crítica em geral considera o marco divisório da sua carreira literária.

Acompanhou de perto as experiências do Concretismo e do Praxismo, movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60. A sua obra Jeremias sem-chorar, de 1964, é bem representativa desta posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas.

Se a sua obra poética é tida como uma das mais sérias e importantes da literatura brasileira contemporânea, a de prosador é também relevante. Historiador e ensaísta, Cassiano Ricardo publicou em 1940 um livro de grande repercussão, Marcha para Oeste, em que estuda o movimento das entradas e bandeiras.

Cassiano Ricardo pertenceu ao Conselho Federal de Cultura e à Academia Paulista de Letras. Na Academia Brasileira de Letras, teve actuação viva e constante. Relator da Comissão de Poesia em 1937, redigiu parecer concedendo a láurea ao livro Viagem, de Cecília Meireles. Para a vitória do seu ponto de vista, manteve destemido confronto. Saiu vitorioso, e Viagem foi o primeiro livro da corrente moderna consagrado na Academia. Ao lado de Manuel Bandeira, Alceu Amoroso Lima e Múcio Leão, Cassiano Ricardo levou adiante o processo de renovação da Instituição, para garantir o ingresso dos verdadeiros valores.

Obras — POESIA: Dentro da noite (1915); A flauta de Pã (1917); Jardim das Hespérides (1920); A mentirosa de olhos verdes (1924); Vamos caçar papagaios (1926); Borrões de verde e amarelo (1927); Martim Cererê (1928), Deixa estar, jacaré (1931); Canções da minha ternura (1930); O sangue das horas (1943); Um dia depois do outro (1947); Poemas murais (1950; A face perdida (1950); O arranha-céu de vidro (1956); João Torto e a fábula (1956); Poesias completas (1957); Montanha russa (1960); A difícil manhã (1960); Jeremias sem-chorar (1964).

Ensaio: O Brasil no original (1936); O negro da bandeira (1938); A Academia e a poesia moderna (1939); Marcha para Oeste (1940); A poesia na técnica do romance (1953); O tratado de Petrópolis (1954); Pequeno ensaio de bandeirologia (1959); 22 e a poesia de hoje (1962); Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964).

Numerosos poemas de Cassiano Ricardo foram traduzidos para o italiano, espanhol, francês, inglês, húngaro, holandês e servo-croata. Marcha para Oeste foi traduzido pelo "Fondo de Cultura Económica" do México, com o título La Marcha hacia el Oeste; e Martim Cererê, do qual Gabriela Mistral já havia traduzido alguns poemas, foi depois integralmente vertido para o castelhano, pela escritora cubana Emília Bernal, e publicado em Madri, pelo Instituto de Cultura Hispânica, em 1953.


A destacar:

a relação com Mário de Andrade – figura de proa do modernismo brasileiro. (Mário de Andrade escreveu o romance modernista Macunaíma, publicado em 1928, em que o (anti)herói é um índio brasileiro. O romance pretende mostrar o multiculturalismo do Brasil : "utiliza os mitos indígenas, as lendas, provérbios do povo brasileiro e regista alguns aspectos do folclore do país até então pouco conhecidos (rapsódia). O livro possui estrutura inovadora, não seguindo uma ordem cronológica (i.e. atemporal) e espacial. É uma obra surrealista, onde se encontra aspectos ilógicos, fantasiosos e lendas. Apresenta críticas implícitas à miscigenação étnica (raças) e religiosa (catolicismo, paganismo, candomblé) e uma critica maior à linguagem." - ver : http://pt.wikipedia.org/wiki/Macunaíma.



Elementos de contextualização:


O modernismo é uma corrente intelectual e artística de se estende de 1890 a 1970 e se caracteriza por :


- Rejeição da tradição

- Rejeição do Romantismo

- a procura do actual;

- o culto do progresso;

- a concepção de que a arte não deve ser uma cópia da realidade;

- aproveitamento das lições de uma nova arte em evidência, o cinema.


O início do século XX foi um momento de crise aguda, de dissolução valores. Ao qual os artistas e os intelectuais reagiram formando o movimento modernista.

A ruptura com o “passado” surgia como uma necessidade tingida pelas ideias e técnicas inovadoras que foram surgindo na transição entre o séc. XIX e o XX.

- redescobrir o mundo através da redescoberta da linguagem estética. - na poesia recusam-se os temas poéticos já gastos, as estruturas vigentes da poética ultrapassada. - os objectos não-estéticos e o dia-a-dia na sua dimensão multiforme entram na arte. - recusa-se o código linguístico convencional e, sob o signo da invenção, surgem novas linguagens literárias


No modernismo a literatura surge associada às artes plásticas e por elas influenciada. Nomes como Fernando Pessoa (n. 1888), Sá Carneiro (n. 1890) e Almada Negreiros (n. 1893), são marcos importantes desta época.

Foi em 1913, em Lisboa, que se constituiu o núcleo do grupo modernista.

Pessoa e Sá Carneiro haviam colaborado na Águia, órgão do Saudosismo; mas iam agora realizar-se em oposição a este, desejosos como estavam de imprimir ao ambiente literário português o tom europeu, audaz e requintado, que faltava à poesia saudosista.

Nesse ano de 1913 escreveu Sá Carneiro, os poemas de Dispersão; Fernando Pessoa dava início a uma escola efémera compondo o poema «Pauis» (ambos nutriam o sonho de uma revista, significativamente intitulada Europa).

Em 1914 os nossos jovens modernistas, estimulados pela aragem de actualidade vinda de Paris com Sá Carneiro e Santa Rita Pintor, adepto do futurismo, faziam seu o projecto que Luís da Silva Ramos (Luís de Montalvor) acabava de trazer do Brasil: o lançamento de uma revista luso-brasileira: Orpheu.

Desta revista saíram dois números em 1915; incluíam colaboração de Montalvor, Pessoa, Sá Carneiro, Almada Negreiros, Cortes Rodrigues, Alfredo Pedro Guisado e Raul Leal; dos brasileiros Ronald de Carvalho e Eduardo Guimarães; de Ângelo de Lima, internado no manicómio; de Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa. Feitos, em parte, para irritar o burguês, para escandalizar, estes dois números alcançaram o fim proposto, tornando-se alvo das troças dos jornais; mas a empresa não pôde prosseguir por falta de dinheiro.

A geração modernista continuou a manifestar-se, quer em publicações individuais, quer através de outras revistas, como é o caso de Exílio (1916), com um só número e Centauro (1916). Em Portugal, a nova geração combatia o academismo bem pensante de republicanos burgueses que tinham feito carreira à sombra do partido.

Tal como aconteceu com a geração da semana de 22, no Brasil, a geração do Orpheu surge como ponto de arranque em mais duma direcção - começo de uma época nova, liquidação de certas formas de pensar e de sentir. Não foi um movimento homogéneo, mas sim uma síntese de várias tendências quer literárias quer plásticas.

Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob iniciativa privada, num esforço de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das quais as novas opções culturais eram demonstradas e divulgadas. No entanto, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais têm maior presença, não proporcionaram abundância de público interessado nos novos eventos culturais.

Enquanto movimento estético e literário de ruptura com o marasmo intelectual, o modernismo irrompe em Portugal em uníssono com a arte e a literatura mais avançadas da Europa.


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