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− | José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, em 1890. | + | José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, em 1890. No mesmo ano em que se convencionou considerar que se inicia o "advento do modernismo" ([http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo Modernismo, na Wikipédia]). |
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Em 1912 viaja para a Europa, em Paris toma contacto com o Futurismo. | Em 1912 viaja para a Europa, em Paris toma contacto com o Futurismo. | ||
− | + | Em 1917 torna-se amigo de Mário de Andrade. Os dois vão liderar a primeira geração do Modernismo brasileiro. | |
+ | En 1919 forma-se em direito. | ||
− | + | Militante divulgador da estética modernista, em 1921 Oswald escreve para o amigo Mário de Andrade o artigo "O meu Poeta Futurista" publicado pelo Jornal do Comércio, artigo "preparatório" da Semana de Arte Moderna de 1922 que de alguma forma "lança" o movimento modernista brasileiro. | |
+ | (- Vale a pena ressaltar, que a Semana em si não teve grande importância na sua época, ganhou valor histórico com o tempo ao projectar-se ideologicamente ao longo do século. Como talvez acontece geralmente a todas as ideias bem sucedidas, a ideia de Modernismo desdobrou-se em diversos movimentos diferentes, todos eles declarando levar adiante a sua herança. | ||
+ | De tal modo que mesmo movimentos muito mais recentes como o '''Tropicalismo''' e a geração da '''Lira Paulistana''' nos anos 70 (Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, entre outros) se reclamam deste ideário. O próprio nome '''Lira Paulistana''' é tirado de uma obra de Mário de Andrade. | ||
+ | Mesmo a '''Bossa Nova''' deve muito aos modernistas, pela sua lição peculiar de "antropofagia", assimilando a influência da música popular norte-americana na linguagem brasileira do samba e do baião.) | ||
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+ | Entre os movimentos de inspiração que surgiram na década de 1920, destacam-se: | ||
− | O ano de 1929 é fundamental na vida do escritor. A crise de 29 abalou as suas finanças | + | Movimento Pau-Brasil |
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+ | Estes manifestos, irreverentes, panfletários e ao mesmo tempo idealistas, estão repletos de instruções sobre o que deve ser a cultura modernista. | ||
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+ | Ilustrada também, naturalmente pela sua poesia. [[Oswald de Andrade parte 4|Selecção de Poesia]] | ||
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+ | A principal forma de divulgação destas novas idéias se dava através das revistas. Entre as que se destacam, encontram-se: | ||
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+ | Revista Klaxon | ||
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+ | Revista de Antropofagia | ||
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+ | O ano de 1929 é fundamental na vida do escritor. A crise de 29 abalou as suas finanças e ele rompe com Mário de Andrade, separa-se de Tarsila do Amaral e apaixona-se pela escritora comunista Patrícia Galvão (Pagu). Intensifica a sua actividade política e passa a militar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além disso, funda com a mulher o jornal "O Homem do Povo", que durou até 1945, quando o autor rompeu com o PCB. | ||
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− | '''[http://pt.wikipedia.org/wiki/Cassiano_Ricardo Cassiano Ricardo]''' | + | '''[http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/biografias/cassianoricardo.htm Cassiano Ricardo]''' e na wikipédia: '''[http://pt.wikipedia.org/wiki/Cassiano_Ricardo Cassiano Ricardo]''' |
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+ | Cassiano Ricardo (C. R. Leite), jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 1895, e morreu no Rio de Janeiro, em 1974. A sua vida estendeu-se portanto por todo o período modernista. | ||
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+ | Membro da Academia desde 1937 na sucessão de Paulo Setúbal, foi recebido pelo académico Guilherme de Almeida. | ||
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+ | Aos 16 anos publicava o seu primeiro livro de poesias, "Dentro da noite". Iniciou o curso de Direito em São Paulo, concluindo-o no Rio, em 1917. | ||
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+ | De volta a São Paulo, foi um dos líderes do movimento de reforma literária iniciada na Semana de Arte Moderna da 1922, participando activamente nos grupos "Verde Amarelo" e "Anta", ao lado de Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros. Formaram a fase que Tristão de Athayde classifica de nacionalista. | ||
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+ | No jornalismo, Cassiano Ricardo trabalhou no Correio Paulistano (de 1923 a 1930), como redactor, e dirigiu A Manhã, do Rio de Janeiro (de 1940 a 1944). Em 1924, fundou a Novíssima, revista literária dedicada à causa dos modernistas e ao intercâmbio cultural pan-americano. Também foi o criador das revistas Planalto (1930) e Invenção (1962). | ||
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+ | Em 1937 fundou, com Menotti del Picchia e Mota Filho, a "Bandeira", movimento político que se contrapunha ao Integralismo. Dirigiu, àquele tempo, o jornal O Anhangüera, que defendia a ideologia da Bandeira, condensada na fórmula: "Por uma democracia social brasileira, contra as ideologias dissolventes e exóticas." | ||
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+ | Eleito, em 1950, presidente do Clube da Poesia em São Paulo, foi várias vezes reeleito, tendo instituído, em sua gestão, um curso de Poética e iniciado a publicação da colecção "Novíssimos", destinada a publicar e apresentar valores representativos daquela fase da poesia brasileira. Entre 1953 e 1954, foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris. | ||
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+ | Poeta inicialmente ligado ao Parnasianismo/Simbolismo, (A flauta de Pã, 1917) adopta a posição nacionalista do movimento de 1922, revelando-se um modernista ortodoxo até o início da década de 40. As obras '''''Vamos caçar papagaios''''' (1926), '''''Borrões de verde e amarelo''''' (1927) e '''''[[Cassiano Ricardo parte 2|Martim Cererê]]''''' (1928) estão entre as mais representativas do Modernismo. Com '''''O sangue das horas''''' (1943), inicia uma nova e surpreendente fase, passando do imagismo cromático ao lirismo introspectivo-filosófico, que se acentua em '''''Um dia depois do outro''''' (1947), obra que a crítica em geral considera o marco divisório da sua carreira literária. | ||
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+ | Acompanhou de perto as experiências do '''Concretismo''' e do '''Praxismo''', movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60. A sua obra '''''Jeremias sem-chorar''''', de 1964, é bem representativa desta posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas. | ||
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+ | Se a sua obra poética é tida como uma das mais sérias e importantes da literatura brasileira contemporânea, a de prosador é também relevante. Historiador e ensaísta, Cassiano Ricardo publicou em 1940 um livro de grande repercussão, Marcha para Oeste, em que estuda o movimento das entradas e bandeiras. | ||
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+ | Cassiano Ricardo pertenceu ao Conselho Federal de Cultura e à Academia Paulista de Letras. Na Academia Brasileira de Letras, teve actuação viva e constante. Relator da Comissão de Poesia em 1937, redigiu parecer concedendo a láurea ao livro ''Viagem'', de Cecília Meireles. Para a vitória do seu ponto de vista, manteve destemido confronto. Saiu vitorioso, e ''Viagem'' foi o primeiro livro da corrente moderna consagrado na Academia. Ao lado de Manuel Bandeira, Alceu Amoroso Lima e Múcio Leão, Cassiano Ricardo levou adiante o processo de renovação da Instituição, para garantir o ingresso dos verdadeiros valores. | ||
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+ | Obras — POESIA: Dentro da noite (1915); A flauta de Pã (1917); Jardim das Hespérides (1920); A mentirosa de olhos verdes (1924); Vamos caçar papagaios (1926); Borrões de verde e amarelo (1927); Martim Cererê (1928), Deixa estar, jacaré (1931); Canções da minha ternura (1930); O sangue das horas (1943); Um dia depois do outro (1947); Poemas murais (1950; A face perdida (1950); O arranha-céu de vidro (1956); João Torto e a fábula (1956); Poesias completas (1957); Montanha russa (1960); A difícil manhã (1960); Jeremias sem-chorar (1964). | ||
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+ | Ensaio: O Brasil no original (1936); O negro da bandeira (1938); A Academia e a poesia moderna (1939); Marcha para Oeste (1940); A poesia na técnica do romance (1953); O tratado de Petrópolis (1954); Pequeno ensaio de bandeirologia (1959); 22 e a poesia de hoje (1962); Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964). | ||
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+ | Numerosos poemas de Cassiano Ricardo foram traduzidos para o italiano, espanhol, francês, inglês, húngaro, holandês e servo-croata. Marcha para Oeste foi traduzido pelo "Fondo de Cultura Económica" do México, com o título La Marcha hacia el Oeste; e Martim Cererê, do qual Gabriela Mistral já havia traduzido alguns poemas, foi depois integralmente vertido para o castelhano, pela escritora cubana Emília Bernal, e publicado em Madri, pelo Instituto de Cultura Hispânica, em 1953. | ||
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+ | '''A destacar:''' | ||
a relação com Mário de Andrade – figura de proa do modernismo brasileiro. | a relação com Mário de Andrade – figura de proa do modernismo brasileiro. | ||
(Mário de Andrade escreveu o romance modernista Macunaíma, publicado em 1928, em que o (anti)herói é um índio brasileiro. O romance pretende mostrar o multiculturalismo do Brasil : "utiliza os mitos indígenas, as lendas, provérbios do povo brasileiro e regista alguns aspectos do folclore do país até então pouco conhecidos (rapsódia). O livro possui estrutura inovadora, não seguindo uma ordem cronológica (i.e. atemporal) e espacial. É uma obra surrealista, onde se encontra aspectos ilógicos, fantasiosos e lendas. Apresenta críticas implícitas à miscigenação étnica (raças) e religiosa (catolicismo, paganismo, candomblé) e uma critica maior à linguagem." - ver : http://pt.wikipedia.org/wiki/Macunaíma. | (Mário de Andrade escreveu o romance modernista Macunaíma, publicado em 1928, em que o (anti)herói é um índio brasileiro. O romance pretende mostrar o multiculturalismo do Brasil : "utiliza os mitos indígenas, as lendas, provérbios do povo brasileiro e regista alguns aspectos do folclore do país até então pouco conhecidos (rapsódia). O livro possui estrutura inovadora, não seguindo uma ordem cronológica (i.e. atemporal) e espacial. É uma obra surrealista, onde se encontra aspectos ilógicos, fantasiosos e lendas. Apresenta críticas implícitas à miscigenação étnica (raças) e religiosa (catolicismo, paganismo, candomblé) e uma critica maior à linguagem." - ver : http://pt.wikipedia.org/wiki/Macunaíma. | ||
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− | O | + | O '''modernismo''' é uma corrente intelectual e artística de se estende de 1890 a 1970 e se caracteriza por : |
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+ | - Rejeição da tradição | ||
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+ | - a concepção de que a arte não deve ser uma cópia da realidade; | ||
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+ | O início do século XX foi um momento de crise aguda, de dissolução valores. | ||
+ | Ao qual os artistas e os intelectuais reagiram formando o movimento modernista. | ||
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+ | A ruptura com o “passado” surgia como uma necessidade tingida pelas ideias e técnicas inovadoras que foram surgindo na transição entre o séc. XIX e o XX. | ||
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+ | - redescobrir o mundo através da redescoberta da linguagem estética. | ||
+ | - na poesia recusam-se os temas poéticos já gastos, as estruturas vigentes da poética ultrapassada. | ||
+ | - os objectos não-estéticos e o dia-a-dia na sua dimensão multiforme entram na arte. | ||
+ | - recusa-se o código linguístico convencional e, sob o signo da invenção, surgem novas linguagens literárias | ||
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+ | No modernismo a literatura surge associada às artes plásticas e por elas influenciada. Nomes como Fernando Pessoa (n. 1888), Sá Carneiro (n. 1890) e Almada Negreiros (n. 1893), são marcos importantes desta época. | ||
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+ | Foi em 1913, em Lisboa, que se constituiu o núcleo do grupo modernista. | ||
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+ | Pessoa e Sá Carneiro haviam colaborado na Águia, órgão do Saudosismo; mas iam agora realizar-se em oposição a este, desejosos como estavam de imprimir ao ambiente literário português o tom europeu, audaz e requintado, que faltava à poesia saudosista. | ||
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+ | Nesse ano de 1913 escreveu Sá Carneiro, os poemas de Dispersão; Fernando Pessoa dava início a uma escola efémera compondo o poema «Pauis» (ambos nutriam o sonho de uma revista, significativamente intitulada Europa). | ||
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+ | Em 1914 os nossos jovens modernistas, estimulados pela aragem de actualidade vinda de Paris com Sá Carneiro e Santa Rita Pintor, adepto do futurismo, faziam seu o projecto que Luís da Silva Ramos (Luís de Montalvor) acabava de trazer do Brasil: o lançamento de uma revista luso-brasileira: Orpheu. | ||
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+ | Desta revista saíram dois números em 1915; incluíam colaboração de Montalvor, Pessoa, Sá Carneiro, Almada Negreiros, Cortes Rodrigues, Alfredo Pedro Guisado e Raul Leal; dos brasileiros Ronald de Carvalho e Eduardo Guimarães; de Ângelo de Lima, internado no manicómio; de Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa. Feitos, em parte, para irritar o burguês, para escandalizar, estes dois números alcançaram o fim proposto, tornando-se alvo das troças dos jornais; mas a empresa não pôde prosseguir por falta de dinheiro. | ||
− | + | A geração modernista continuou a manifestar-se, quer em publicações individuais, quer através de outras revistas, como é o caso de Exílio (1916), com um só número e Centauro (1916). Em Portugal, a nova geração combatia o academismo bem pensante de republicanos burgueses que tinham feito carreira à sombra do partido. | |
− | + | Tal como aconteceu com a geração da semana de 22, no Brasil, a geração do Orpheu surge como ponto de arranque em mais duma direcção - começo de uma época nova, liquidação de certas formas de pensar e de sentir. Não foi um movimento homogéneo, mas sim uma síntese de várias tendências quer literárias quer plásticas. | |
Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob iniciativa privada, num esforço de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das quais as novas opções culturais eram demonstradas e divulgadas. No entanto, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais têm maior presença, não proporcionaram abundância de público interessado nos novos eventos culturais. | Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob iniciativa privada, num esforço de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das quais as novas opções culturais eram demonstradas e divulgadas. No entanto, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais têm maior presença, não proporcionaram abundância de público interessado nos novos eventos culturais. | ||
+ | Enquanto movimento estético e literário de ruptura com o marasmo intelectual, o modernismo irrompe em Portugal em uníssono com a arte e a literatura mais avançadas da Europa. | ||
Edição actual desde as 18h00min de 22 de Fevereiro de 2009
No âmbito do Ciclo de Música e Poesia Brasileira na Fundação das Casas de Fronteira e Alorna... faremos uma breve incursão na vida e obra de Oswald de Andrade e Cassiano Ricardo.
Dados chave:
José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, em 1890. No mesmo ano em que se convencionou considerar que se inicia o "advento do modernismo" (Modernismo, na Wikipédia).
Em 1912 viaja para a Europa, em Paris toma contacto com o Futurismo.
Em 1917 torna-se amigo de Mário de Andrade. Os dois vão liderar a primeira geração do Modernismo brasileiro.
En 1919 forma-se em direito.
Militante divulgador da estética modernista, em 1921 Oswald escreve para o amigo Mário de Andrade o artigo "O meu Poeta Futurista" publicado pelo Jornal do Comércio, artigo "preparatório" da Semana de Arte Moderna de 1922 que de alguma forma "lança" o movimento modernista brasileiro.
(- Vale a pena ressaltar, que a Semana em si não teve grande importância na sua época, ganhou valor histórico com o tempo ao projectar-se ideologicamente ao longo do século. Como talvez acontece geralmente a todas as ideias bem sucedidas, a ideia de Modernismo desdobrou-se em diversos movimentos diferentes, todos eles declarando levar adiante a sua herança. De tal modo que mesmo movimentos muito mais recentes como o Tropicalismo e a geração da Lira Paulistana nos anos 70 (Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, entre outros) se reclamam deste ideário. O próprio nome Lira Paulistana é tirado de uma obra de Mário de Andrade. Mesmo a Bossa Nova deve muito aos modernistas, pela sua lição peculiar de "antropofagia", assimilando a influência da música popular norte-americana na linguagem brasileira do samba e do baião.)
Entre os movimentos de inspiração que surgiram na década de 1920, destacam-se:
Movimento Pau-Brasil
Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta
Movimento antropofágico
e Oswald de Andrade será autor de Manifesto da Poesia Pau-Brasil publicado em 1924 e do Manifesto Antropófago publicado em 1928.
Estes manifestos, irreverentes, panfletários e ao mesmo tempo idealistas, estão repletos de instruções sobre o que deve ser a cultura modernista.
Ilustrada também, naturalmente pela sua poesia. Selecção de Poesia
A principal forma de divulgação destas novas idéias se dava através das revistas. Entre as que se destacam, encontram-se:
Revista Klaxon
Revista de Antropofagia
O ano de 1929 é fundamental na vida do escritor. A crise de 29 abalou as suas finanças e ele rompe com Mário de Andrade, separa-se de Tarsila do Amaral e apaixona-se pela escritora comunista Patrícia Galvão (Pagu). Intensifica a sua actividade política e passa a militar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além disso, funda com a mulher o jornal "O Homem do Povo", que durou até 1945, quando o autor rompeu com o PCB.
Depois de separar-se de Pagu, casou-se, em 1936, com a poetisa Julieta Bárbara. Em 1944, mais um casamento, agora com Maria Antonieta D'Aikmin, com quem permanece junto até a morte, em 1954.
Nenhum outro escritor do Modernismo ficou mais conhecido pelo espírito irreverente e combativo do que Oswald de Andrade. Sua atuação intelectual é considerada fundamental na cultura brasileira do início do século. A obra literária de Oswald apresenta exemplarmente as características do Modernismo da primeira fase.
A poesia de Oswald é precursora de um movimento que vai marcar a cultura brasileira na década de 60: o Concretismo. Suas idéias, ainda nessa década, reaparecem também no Tropicalismo.
Cassiano Ricardo e na wikipédia: Cassiano Ricardo
Dados chave:
Cassiano Ricardo (C. R. Leite), jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 1895, e morreu no Rio de Janeiro, em 1974. A sua vida estendeu-se portanto por todo o período modernista.
Membro da Academia desde 1937 na sucessão de Paulo Setúbal, foi recebido pelo académico Guilherme de Almeida.
Aos 16 anos publicava o seu primeiro livro de poesias, "Dentro da noite". Iniciou o curso de Direito em São Paulo, concluindo-o no Rio, em 1917.
De volta a São Paulo, foi um dos líderes do movimento de reforma literária iniciada na Semana de Arte Moderna da 1922, participando activamente nos grupos "Verde Amarelo" e "Anta", ao lado de Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros. Formaram a fase que Tristão de Athayde classifica de nacionalista.
No jornalismo, Cassiano Ricardo trabalhou no Correio Paulistano (de 1923 a 1930), como redactor, e dirigiu A Manhã, do Rio de Janeiro (de 1940 a 1944). Em 1924, fundou a Novíssima, revista literária dedicada à causa dos modernistas e ao intercâmbio cultural pan-americano. Também foi o criador das revistas Planalto (1930) e Invenção (1962).
Em 1937 fundou, com Menotti del Picchia e Mota Filho, a "Bandeira", movimento político que se contrapunha ao Integralismo. Dirigiu, àquele tempo, o jornal O Anhangüera, que defendia a ideologia da Bandeira, condensada na fórmula: "Por uma democracia social brasileira, contra as ideologias dissolventes e exóticas."
Eleito, em 1950, presidente do Clube da Poesia em São Paulo, foi várias vezes reeleito, tendo instituído, em sua gestão, um curso de Poética e iniciado a publicação da colecção "Novíssimos", destinada a publicar e apresentar valores representativos daquela fase da poesia brasileira. Entre 1953 e 1954, foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris.
Poeta inicialmente ligado ao Parnasianismo/Simbolismo, (A flauta de Pã, 1917) adopta a posição nacionalista do movimento de 1922, revelando-se um modernista ortodoxo até o início da década de 40. As obras Vamos caçar papagaios (1926), Borrões de verde e amarelo (1927) e Martim Cererê (1928) estão entre as mais representativas do Modernismo. Com O sangue das horas (1943), inicia uma nova e surpreendente fase, passando do imagismo cromático ao lirismo introspectivo-filosófico, que se acentua em Um dia depois do outro (1947), obra que a crítica em geral considera o marco divisório da sua carreira literária.
Acompanhou de perto as experiências do Concretismo e do Praxismo, movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60. A sua obra Jeremias sem-chorar, de 1964, é bem representativa desta posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas.
Se a sua obra poética é tida como uma das mais sérias e importantes da literatura brasileira contemporânea, a de prosador é também relevante. Historiador e ensaísta, Cassiano Ricardo publicou em 1940 um livro de grande repercussão, Marcha para Oeste, em que estuda o movimento das entradas e bandeiras.
Cassiano Ricardo pertenceu ao Conselho Federal de Cultura e à Academia Paulista de Letras. Na Academia Brasileira de Letras, teve actuação viva e constante. Relator da Comissão de Poesia em 1937, redigiu parecer concedendo a láurea ao livro Viagem, de Cecília Meireles. Para a vitória do seu ponto de vista, manteve destemido confronto. Saiu vitorioso, e Viagem foi o primeiro livro da corrente moderna consagrado na Academia. Ao lado de Manuel Bandeira, Alceu Amoroso Lima e Múcio Leão, Cassiano Ricardo levou adiante o processo de renovação da Instituição, para garantir o ingresso dos verdadeiros valores.
Obras — POESIA: Dentro da noite (1915); A flauta de Pã (1917); Jardim das Hespérides (1920); A mentirosa de olhos verdes (1924); Vamos caçar papagaios (1926); Borrões de verde e amarelo (1927); Martim Cererê (1928), Deixa estar, jacaré (1931); Canções da minha ternura (1930); O sangue das horas (1943); Um dia depois do outro (1947); Poemas murais (1950; A face perdida (1950); O arranha-céu de vidro (1956); João Torto e a fábula (1956); Poesias completas (1957); Montanha russa (1960); A difícil manhã (1960); Jeremias sem-chorar (1964).
Ensaio: O Brasil no original (1936); O negro da bandeira (1938); A Academia e a poesia moderna (1939); Marcha para Oeste (1940); A poesia na técnica do romance (1953); O tratado de Petrópolis (1954); Pequeno ensaio de bandeirologia (1959); 22 e a poesia de hoje (1962); Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964).
Numerosos poemas de Cassiano Ricardo foram traduzidos para o italiano, espanhol, francês, inglês, húngaro, holandês e servo-croata. Marcha para Oeste foi traduzido pelo "Fondo de Cultura Económica" do México, com o título La Marcha hacia el Oeste; e Martim Cererê, do qual Gabriela Mistral já havia traduzido alguns poemas, foi depois integralmente vertido para o castelhano, pela escritora cubana Emília Bernal, e publicado em Madri, pelo Instituto de Cultura Hispânica, em 1953.
A destacar:
a relação com Mário de Andrade – figura de proa do modernismo brasileiro. (Mário de Andrade escreveu o romance modernista Macunaíma, publicado em 1928, em que o (anti)herói é um índio brasileiro. O romance pretende mostrar o multiculturalismo do Brasil : "utiliza os mitos indígenas, as lendas, provérbios do povo brasileiro e regista alguns aspectos do folclore do país até então pouco conhecidos (rapsódia). O livro possui estrutura inovadora, não seguindo uma ordem cronológica (i.e. atemporal) e espacial. É uma obra surrealista, onde se encontra aspectos ilógicos, fantasiosos e lendas. Apresenta críticas implícitas à miscigenação étnica (raças) e religiosa (catolicismo, paganismo, candomblé) e uma critica maior à linguagem." - ver : http://pt.wikipedia.org/wiki/Macunaíma.
Elementos de contextualização:
O modernismo é uma corrente intelectual e artística de se estende de 1890 a 1970 e se caracteriza por :
- Rejeição da tradição
- Rejeição do Romantismo
- a procura do actual;
- o culto do progresso;
- a concepção de que a arte não deve ser uma cópia da realidade;
- aproveitamento das lições de uma nova arte em evidência, o cinema.
O início do século XX foi um momento de crise aguda, de dissolução valores.
Ao qual os artistas e os intelectuais reagiram formando o movimento modernista.
A ruptura com o “passado” surgia como uma necessidade tingida pelas ideias e técnicas inovadoras que foram surgindo na transição entre o séc. XIX e o XX.
- redescobrir o mundo através da redescoberta da linguagem estética. - na poesia recusam-se os temas poéticos já gastos, as estruturas vigentes da poética ultrapassada. - os objectos não-estéticos e o dia-a-dia na sua dimensão multiforme entram na arte. - recusa-se o código linguístico convencional e, sob o signo da invenção, surgem novas linguagens literárias
No modernismo a literatura surge associada às artes plásticas e por elas influenciada. Nomes como Fernando Pessoa (n. 1888), Sá Carneiro (n. 1890) e Almada Negreiros (n. 1893), são marcos importantes desta época.
Foi em 1913, em Lisboa, que se constituiu o núcleo do grupo modernista.
Pessoa e Sá Carneiro haviam colaborado na Águia, órgão do Saudosismo; mas iam agora realizar-se em oposição a este, desejosos como estavam de imprimir ao ambiente literário português o tom europeu, audaz e requintado, que faltava à poesia saudosista.
Nesse ano de 1913 escreveu Sá Carneiro, os poemas de Dispersão; Fernando Pessoa dava início a uma escola efémera compondo o poema «Pauis» (ambos nutriam o sonho de uma revista, significativamente intitulada Europa).
Em 1914 os nossos jovens modernistas, estimulados pela aragem de actualidade vinda de Paris com Sá Carneiro e Santa Rita Pintor, adepto do futurismo, faziam seu o projecto que Luís da Silva Ramos (Luís de Montalvor) acabava de trazer do Brasil: o lançamento de uma revista luso-brasileira: Orpheu.
Desta revista saíram dois números em 1915; incluíam colaboração de Montalvor, Pessoa, Sá Carneiro, Almada Negreiros, Cortes Rodrigues, Alfredo Pedro Guisado e Raul Leal; dos brasileiros Ronald de Carvalho e Eduardo Guimarães; de Ângelo de Lima, internado no manicómio; de Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa. Feitos, em parte, para irritar o burguês, para escandalizar, estes dois números alcançaram o fim proposto, tornando-se alvo das troças dos jornais; mas a empresa não pôde prosseguir por falta de dinheiro.
A geração modernista continuou a manifestar-se, quer em publicações individuais, quer através de outras revistas, como é o caso de Exílio (1916), com um só número e Centauro (1916). Em Portugal, a nova geração combatia o academismo bem pensante de republicanos burgueses que tinham feito carreira à sombra do partido.
Tal como aconteceu com a geração da semana de 22, no Brasil, a geração do Orpheu surge como ponto de arranque em mais duma direcção - começo de uma época nova, liquidação de certas formas de pensar e de sentir. Não foi um movimento homogéneo, mas sim uma síntese de várias tendências quer literárias quer plásticas.
Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob iniciativa privada, num esforço de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das quais as novas opções culturais eram demonstradas e divulgadas. No entanto, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais têm maior presença, não proporcionaram abundância de público interessado nos novos eventos culturais.
Enquanto movimento estético e literário de ruptura com o marasmo intelectual, o modernismo irrompe em Portugal em uníssono com a arte e a literatura mais avançadas da Europa.
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