Recortes de Imprensa

Público P2 e blog Quarta Parede - 061207

Inês Nadais


William Nadylam faz música de elevador no primeiro dos quatro dias europeus do teatro


Conferência de Imprensa, de Alvaro García de Zúñiga, abre hoje o Portogofone


William Nadylam foi o Hamlet mais extraordinário que se viu no início da década e foi assim que ficou, para memória futura: como o Hamlet de Peter Brook. Agora que está no Porto para ser o actor total de Conferência de Imprensa (e ser o actor total implica responder a todas as perguntas, eventualmente até marchar ao som delas, e acreditar até ao fim que não há business como o show business) ele pode continuar a ser extraordinário.


Hoje, amanhã e depois - sempre às 20h, no Mosteiro de S. Bento da Vitória, no Porto - vamos ouvir Nadylam em loop a dizer coisas que já ouvimos na vida real (também tivemos as nossas picaretas falantes). Coisas como “precisamos de fazer cortes”, “uma promessa não é um compromisso”, “seria prematuro eu avançar alguma coisa sobre o assunto” e “é o sistema, acontece cada vez mais, não podemos fazer nada”. Vamos ouvi-lo a repetir isso e provavelmente vamos acreditar, como quem acredita em música de elevador. Não a música de elevador que ouvimos no elevador - estamos a falar da música de elevador que ouvimos nos corredores do poder (já ninguém acredita nela, mas que ainda a há, há).


William Nadylam sozinho durante uma hora, a ouvir perguntas imaginárias e a dar respostas que não dizem nada. É o círculo vicioso do poder, explica Alvaro Garcia de Zúñiga, o dramaturgo e compositor português (mas de Montevideu) que escreveu este monólogo para o corpo e a voz de Nadylam: “Conheci-o em palco, vi-o a fazer um Hamlet e depois encontrámo-nos num jantar. Falámos muito e passei os dias seguintes a mostrar-lhe Lisboa [”os azulejos, o bacalhau”, interrompe o actor francês, mas dos Camarões]. Algum tempo depois, não sei exactamente quando, disse-lhe que tinha vontade de fazer uma peça sobre o poder. Ele gostou da ideia e partimos para este solo.”


Zapping de personagens


Conferência de Imprensa é o que Alvaro Garcia de Zúñiga tem a dizer sobre o poder: nada. Nunca saberemos quem é este homem que fala de todos os assuntos (o desemprego, as condições de vida nas minas, as catástrofes humanitárias, um manuscrito encontrado na Sicília, o direito de ingerência, as dificuldades do financiamento, o último filme que viu no cinema), mas William Nadylam também não. “Tenho a impressão de ter um telecomando na mão e de fazer zapping de uma personagem para a outra, a uma velocidade constante, como se houvesse uma partitura musical e eu estivesse a segui-la”, diz o actor ao P2. “No final, quando a marcha militar se mistura com aquele there”s no business like show business, há um momento em que se ouve, atrás, “esquerda, direita, esquerda, direita”. E isso é emblemático do poder: vai-se sempre na mesma direcção, quer se vá para a direita, quer se vá para a esquerda.”


É isso que vemos acontecer nos corredores de poder e é isso que vemos acontecer nas conferências de imprensa, o não-lugar escolhido pelo autor do texto para esta reflexão sobre o círculo vicioso do discurso político (onde se lê político também pode ler-se económico, ou mediático). João Louro cenografou este não-lugar de maneira a parecer-se tanto com os press rooms alcatifados da política norte-americana como com os estendais de roupa da Europa mediterrânica. Fazem-se muitas coisas nas conferências de imprensa, incluindo lavar roupa suja. Programa para quatro dias


O programa Portogofone começa hoje uma hora e meia antes da estreia absoluta de Conferência de Imprensa: a Charanga, dos Circolando, chega às 18h30 à Praça Carlos Alberto, dando o tiro de partida para quatro dias europeus do teatro que incluem mais uma novidade em primeira mão (Turismo Infinito, nova criação de Ricardo Pais a partir de textos de Fernando Pessoa) e uma mostra do melhor que o Teatro Nacional S. João (TNSJ) andou a fazer nos últimos anos, à atenção dos programadores internacionais convidados. Ella, o one man show de Fernando Mora Ramos que teve estreia há dois anos no TNSJ, Todos os que Falam, parceria da Assédio com o Ensemble sobre dramatículos de Samuel Beckett, e Quarto Interior, também da Circolando, são os espectáculos que o TNSJ acredita poder colocar lá fora.


Mas os próximos dias vão servir também para voltar a acreditar no teatro como uma festa - no sábado vai haver micro-acontecimentos em locais inesperados (uma cabine telefónica na Cordoaria, o metro, a sala de pequenos-almoços de um hotel) - e como tema de discussão. Amanhã e depois, a mesa-redonda Teatro Europa vai debater as condições da criação teatral no contexto das políticas europeias, no domingo o Portogofone acolhe a 37ª assembleia geral da União dos Teatros da Europa, a que o TNSJ aderiu em 2003.


Conferência de Imprensa

De Alvaro García de Zúñiga.

Porto Mosteiro de S. Bento da Vitória. Hoje, amanhã e depois, às 20h. Bilhetes a dez euros.

Almada Teatro Municipal de Almada. Dias 14 e 15, às 21h30; dia 16, às 16h. Bilhetes entre cinco e 11 euros

Público, P2 6/12/2007

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