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Alvaro García de Zúñiga na Cidade Matarazzo


S. Paulo – 6 de Setembro a 11 de Outubro




Alvaro García de Zúñiga, nasceu em Montevideo no dia 17 de Janeiro de 1958, teve um percurso singular e múltiplo; deixou-nos em legado uma obra imensa.


Viveu em Montevideo, no Rio de Janeiro, em Buenos Aires, Santiago do Chile, Paris e Lisboa. Passou temporadas em Madrid, Londres, Colónia, Zurique, Berlim e Roma. Morreu em Lisboa no dia 23 de Abril de 2014.


Músico, poeta, escritor, encenador, realizador, pensador, Alvaro tinha a energia inesgotável de um electrão, um otimismo indomável, um talento inqualificável e em larga medida por descobrir.


Alvaro tinha também uma curiosidade generosa que se interessava simplesmente por tudo e uma capacidade de amar apenas equivalente ao amor que tinha por si próprio e à sua capacidade de partilha com o(s) outro(s). Esta característica é seguramente o motivo pelo qual, no seu curto tempo de vida, produziu muito mais do que conseguiu mostrar.


Aproveitamos esta homenagem que o curador Marc Pottier tomou a iniciativa de nos propor para dar a conhecer um pouco da obra e personalidade desse artista ímpar destes tempos que ele tão bem soube entender, antecipar e descrever. Como dizia um amigo o Alvaro era capaz de “engolir o mundo”. Não havia nada que não lhe interessasse ou não lhe dissesse respeito, os seus olhos brilhavam em permanência de curiosidade, de vontade de chegar a tudo, a todos, à compreensão absoluta. Por isso a sua obra maior e última é Manuel, um manual. Manuel apresenta-se: “Manuel - meio-homem, meio-manual de instruções – tenta perceber a realidade através dos livros. E vice-versa (através dos livros a realidade) E vice-vice e versa-versa (através dos livros os livros e através da realidade a realidade)”.


Talvez não por acaso o acaso fez que Alvaro nascesse durante um filme de desmonstração do método psico-profilático do parto sem dor, afinal um manual para grávidas filmado pelo seu tio e notável realizador uruguaio Omero Capozzoli. Mostrar este filme significa para nós prestar um tributo às pessoas que rodearam o Alvaro nos seus primeiros anos de vida. Mas este filme dá-nos também algumas pistas para percebermos algumas das características fundamentais do Alvaro : o culto dos clássicos e do saber, o ideal de progresso socialista, a confiança na ciência e no homem, aos quais o Alvaro acrescentou, sobre o seu fundo de generosidade inesgotável, a vontade de saber tudo, de fazer tudo, explorar todas as formas, entender todos os processos criativos.


Assim fez-se músico, escritor e poeta, realizador para rádio e cinema, encenador, adaptador, pensador e artista plástico.


Alvaro : Manuel – AGZ de A a Z


Para a Cidade Matarazzo, situada no centro de S Paulo, entre a Paulista e a 9 de Julho, preparamos uma instalação com o filme-documentário de Omero Capozzoli, distinto realizador uruguayo e fundador do Cine Clube Oriental. Trata-se de um documento sobre o método psico-profilático de parto sem dor ensinado no curso do Dr. Hugo Sacchi, amigo de Omero. Por coincidência, ou não, a mãe do Alvaro, cunhada de Omero, Amanda, reunia as condições ideais para exemplificar as virtudes do método: estava de esperanças e tratava-se do primeiro filho. Deste modo, o nascimento do Alvaro foi filmado em 16mm, no dia 17 de Janeiro de 1958, pelo tio Omero, o assistente de iluminação foi o pai, Alvaro García de Zúñiga, a vizinha experiente que ajuda é a tia Pelusa, irmã do pai, casada com o realizador, o outro bébé que aparece é a prima, Helena Capozzoli, na altura com 14 meses e 10 dias. A prima Helena conta-nos que a confiança no método do Dr. Sacchi era tal que, nesse mesmo dia 17, os pais de Alvaro foram para a maternidade de vespa, Amanda para dar à luz e Alvaro para iluminar a cena. Felizmente, como vemos no filme, correu tudo bem.


Esta cópia contém uma pequena intervenção sonora a partir do minuto 17’, com um texto do Alvaro sobre a chegada do homem à Lua e a forma como Manuel, o seu alter ego, salvou os astronautas graças a uma caneta da sua invenção. Outra forma de dizer, talvez, que a literatura pode salvar o mundo.


Na sala ao lado, na sala do som, uma rádio está emitindo excertos e pequenas peças áudio produzidas entre 1998 e 2012. Apresenta-se também uma entrevista de 2007 que foi gravada para a Rádio Difusão Portuguesa. Esta apresentação de Alvaro García de Zúñiga na Cidade Matarazzo começa com o nascimento e evoca a sua última obra: Manuel, por esse motivo tem por título Alvaro : Manuel – AGZ de A a Z.


Em 1996, pouco tempo depois de se instalar em Lisboa, Alvaro e eu criámos a blablaLab, um laboratório de linguagens que reúne também os artistas, intelectuais e amigos que partilham connosco esse amor pela palavra, pela invenção e pela vida de que Alvaro é uma referência maior. No site blablalab.net vamos coligindo a informação e divulgando os projetos que nos fazem, como dizia outro amigo, exercer a prática produtiva da amizade, na qual Alvaro era de facto um grande especialista, dando-nos o exemplo que tratamos de seguir.


Está convidado(a) a participar.


Teresa Albuquerque


Agradecimento: as instalações na Cidade Matarazzo foram possíveis graças à colaboração de Elsa Ferreira, Fernán García de Zúñiga, João Louro, Luís Alves de Matos, Marc Pottier.



blablalab