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“What bloody man is that?”

Depois do prólogo/presságio das bruxas, a verdadeira ação de Macbeth começa com estas palavras de Duncan. E acontece que todas as personagens deste pesadelo vão mergulhar no sangue.


Muitos especialistas consideram Macbeth a tragédia da ambição, ou do medo. Muitos também são os que pensam que Macbeth tem dois grandes papéis, mais na realidade esconde um terceiro grande personagem que é o mundo. Um mundo hermético que não deixa lugar a escapatórias, no qual até a natureza é opaca, espessa, feita de lama:

[BANQUO] The earth hath bubbles, as the water has,

and these are of them. Whither are they vanish'd?

[MACBETH] Into the air; and what seem'd corporal melted

as breath into the wind. Would they had stay'd!

A terra borbulha, como se tivesse febre num mundo húmido e chuvoso onde sempre é noite. Trata-se dum pesadelo de sangue no qual tudo é confronto, e onde todos e todas as mudanças voltam a transformar-se sempre nos mesmos e na mesma coisa.


No começo, Shakespeare – que nunca erra nas suas exposições –, toca a questão do Thane de Cawdor, da sua traição e sua captura e condenação a morte: “nothing in his life became him like the leaving it; he died as one that had been studied in his death to throw away the dearest thing he owed, as 'twere a careless trifle”. A morte de Cawdor – que aliás não aparece na peça – é indispensável porque será a referência no momento da morte de Macbeth. Perante a morte Cawdor salva aquilo que ainda pode ser salvo: a dignidade e o gesto; mas para Macbeth os gestos não têm importância e talvez pior ainda, ele não acredita mais na dignidade humana. Só lhe fica desprezo: não pode suicidar-se porque não se sente culpado nem há contra o que protestar; só pode, antes de morrer, continuar a matar “Why should I play the Roman fool, and die on mine own sword? whiles I see lives, the gashes do better upon them”.


Entre um acontecimento e o outro, nesse mundo no qual não há lugar para o amor, a amizade ou nem sequer o desejo – a excepção do desejo de morte – no casal sem filhos – já que estes estão mortos – formado por Macbeth e lady Macbeth, ela é que é o homem. Macbeth, em si mesmo não é uma “personagem”, pelo menos no que respeita o modo mais tradicional de compor uma personagem. Lady Macbeth sim: como se fosse uma chama, tudo se consome nela, excepto a febre de poder. Ela exige a Macbeth o assassínio de Duncan como um modo de confirmar a sua virilidade, quase como um – único – acto de amor. E é pelo facto de estar em total acordo com os seus actos que não consegue escapar de si mesma, e já totalmente vazia, vai continuar a arder e a vingar-se dos seus falhanços como amante e como mãe.


Para Macbeth a morte dela confunde-se com a dele já próxima:

“She should have died hereafter;

There would have been a time for such a word.

To-morrow, and to-morrow, and to-morrow,

Creeps in this petty pace from day to day

To the last syllable of recorded time,

And all our yesterdays have lighted fools

The way to dusty death. Out, out, brief candle!

Life's but a walking shadow, a poor player

That struts and frets his hour upon the stage

And then is heard no more: it is a tale

Told by an idiot, full of sound and fury,

Signifying nothing.”

Só lhe resta então continuar assassinando até o fim.

AGZ

Lx, 10 de Setembro de 2013.




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